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Texto 2: Como era a iluminação, os móveis e os utensílios

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"IRECÊ: HISTÓRIA, CASOS E LENDAS

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Jackson Rubem (2001)

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    O óleo de mamona, também usado na iluminação de suas casas, era facilmente extraído por eles. Mas algumas pessoas em vez de extraírem o óleo simplesmente usavam os caroços descascados.

    Escolhiam alguns caroços de mamona preta, da brava, descascavam e os colocavam numa talisca de coqueiro, de aproximadamente quinze centímetros, até enchê-la. Botavam fogo no primeiro caroço de mamona e colocavam a talisca num buraco da parede de barro, conseguindo também dessa forma iluminar suas casas.

    Os que não usavam os caroços de mamona, usavam o óleo que extraíam deles. Pegavam uma certa quantidade mamona, dando preferência à que produz sementes pequenas. Alguns descascavam estas sementes, outros pisavam num pilão com casca e tudo, acrescentando um pouco de água. Depois colocavam essa massa numa peneira de palha (e todas eram de palha) e coavam. O que ficava em cima da peneira serviria para fazer sabão, o que ficavam em baixo, uma espécie de leite, dento de um grande caldeirão, era levado ao fogo para ferver.

    Acompanhavam a fervura. Minutos após, a substância começava a coalhar, formando uma espécie de nata, que era paulatinamente retirada com uma colher de pau e colocada numa caçarola. Depois de algum tempo, restava no caldeirão original apenas uma água branca que não servia pra nada. 

    Levavam a caçarola ao fogo para fritar a nata, a fim de apurar o óleo, eliminando todo o resto de água que porventura viesse a ter. Durante esse processo a fritura "xiava" como se fosse toucinho, deixando o tão útil óleo de mamona, que, depois de frio, era guardado em recipientes adequados.

    Este óleo de mamona, conhecido também com óleo de rícino, além de usado na iluminação das casas, tinha diversas serventias. As moças, por exemplo, costumavam usá-lo nos compridos cabelos. Outras pessoas o usavam como purgante, em cortes, em queimaduras, em chiqueiradas de porcos, a fim de abrir o apetite de animais enfastiados e em pessoas que tinham excesso de apetite.

    Naquela época, era comum a existência de pessoas que não tinham o menor controle no ato de comer. Algumas comiam latas e mais latas de frutas de palma, de uma só sentada. Outras comiam pinha e umbu, engolindo os caroços. Estas pessoas comumente ficavam "arroiadas" ou "entupidas". Aí entrava em cena o famoso óleo de mamona, que tomado na dosagem certa, acabava provocando uma imensa alegria nos "arroiados" ou "entopidos": a alegria de poder cagar!

    Acontece que a evolução sempre a galope, trazendo além das latas de querosenes, os candeeiros do tipo "fifós", dispensando assim, a retirada do óleo de mamona para fins de iluminação. Para os que tinham maior poder aquisitivo, havia os famosos candeeiros marca "Aladin" ou "Coleman", importados dos Estados Unidos.

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(Trecho do texto "A era dos nossos antepassados: como era a iluminação, os móveis e os utensílios", do livro Irecê: histórias, casos e lendas, de Jackson Rubem. Disponível em: <https://books.google.com.br/books?id=JbDrX2GqsN8C&pg=PA61&hl=pt-PT&source=gbs_toc_r&cad=3#v=onepage&q&f=false>. Acesso em: 22 mai. 2019)